Os ciganos são uma etnia,
com língua e costumes próprios, que sempre os diferenciou e protegeu das
grandes transformações pelas quais o mundo passou e ainda passa. A
teoria mais aceita sobre a sua origem é a de que tenham vindo da Índia,
lá praticavam inúmeras artes manuais e artes mágicas, naturalmente
artistas tinham grande fascínio pelos mistérios da natureza e do ser
humano; um dia partiram para terras desconhecidas em busca de melhores
recursos para suas vidas, para manterem-se unidos mantiveram algumas de
suas tradições de berço e criaram leis para uma convivência pacífica.
A caminhada foi longa e
ainda é, pois muitos ainda mantém uma vida total ou parcialmente nômade,
seja como for, alguns costumes e a própria língua foram se
acrescentando de termos, hábitos e usos dos povos que conheceram,
mantiveram porém, os traços marcantes que são suas referências na
passagem pela história do mundo, a arte da música e da dança e a leitura
dos mais variados oráculos.
Para os ciganos a família é
a base de toda a vida, os mais velhos detêm o conhecimento das
experiências que os mais novos ainda não viveram e o mais novos são a
certeza da continuação daquilo que acreditam. O nascimento, o casamento e
a morte compõem os mais importantes ritos, há muitas regras que
determinam o comportamento do homem e da mulher, estas servem para a
proteção das tradições e do próprio indivíduo numa sociedade com valores
diferentes dos seus.
É pena que o mundo saiba
tão pouco sobre como os ciganos encaram a vida, sempre em frente, sem
medo dos ventos que mudam as direções de nossos passos sem avisar.
Apesar do caminho difícil, os grupos que saíram da Índia cresceram e
dividiram-se, seguiram direções diferentes, e por isso existem tantos
ciganos quanto países no mundo. No deserto, na Europa, Ásia, América e
na própria Índia, sempre se destacam na música, dança, entretenimento,
terapias alternativas e artes divinatórias. Os ciganos não têm uma
religião específica, mas sim uma fé gigantesca, acreditam numa força
maior criadora do universo e por isso tudo que há nele deve ser
respeitado, acreditam em reencarnação e mundos paralelos que abrigam
espíritos de inteligência superior que ajudam na proteção e evolução dos
seres. Assim, há ciganos hinduístas, católicos, evangélicos (que não
praticam as artes mágicas), budistas e adeptos de toda religião de que
se tenha notícia.
Foram necessárias muita
força e fé para enfrentarem e sobreviverem aos desatinos da humanidade a
que foram submetidos. Essa fé e força devem ter sido uma grande afronta
a muitos reinados que os perseguiram por não submeterem-se às leis
locais, normalmente mantinham-se às margens de rios ou florestas onde
pudessem se alimentar e descansar, quando iam às vilas trocavam ou
vendiam mercadorias, e ainda ofereciam a leitura das cartas e das mãos,
além dos filtros para a saúde, beleza e amor. Bem se sabe que um cigano
tem o dom do convencimento, e quantas vezes não venderam cavalos negros
que por “milagre” ficaram brancos, talvez essa esperteza, a língua que
lhes permitia falar segredos em voz alta, pois além de seu dialeto eles
sabiam as línguas locais, mas ninguém sabia a deles; a sua forma de
encantar com a dança e as músicas que passavam uma noção de liberdade
que muitos jamais conheceriam, talvez esses traços os fizessem perigosos
aos olhos dos poderosos. Não se sabe bem a razão, mas foram perseguidos
em muitos reinos que os proibiram de praticar suas artes, comércio e
principalmente a leitura das mãos, e de maneira alguma parecerem
ciganos, o que só lhes deixavam a opção de fugir; a Igreja levou
milhares aos tribunais da Inquisição; muitos países modernos matavam os
pais ciganos na frente dos filhos para a criança aprender que ser cigano
era errado; na Segunda Guerra Mundial morreram outros tantos nos campos
de concentração.
O tempo passou,
sobreviveram e ainda enfrentam o preconceito de muitas formas, mas
muitos querendo ou não, a cultura cigana é vasta, rica em lendas e
fontes de força para mantê-los ainda seguindo por muito tempo, não há
palavras para definí-la, não só porque a cultura seja ágrafa, mas porque
são milênios de passos incontáveis, de momentos felizes onde alguns
aceitaram o povo errante, aprenderam e ensinaram, de momentos tristes,
já que é assim que a vida se faz; porém procurando se encontra, e
relatos sobre ciganos em inúmeros eventos da história se fazem
presentes, seja pela arte, magia, previsões, sortilégios ou
superstições, muitas delas até os dias de hoje.
O mais importante é que se
tenha a mente e o coração aberto para conhecer coisas novas ou tão
antigas quanto os ciganos e como eles tirar delas o melhor, que é o
aprendizado que não se compra e não se perde, pois como diz um ditado
cigano “o conhecimento é a maior riqueza que se almeja e saber
utilizá-lo é ser rico eternamente”.
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