Cigana Fátima Amaya

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Caminhos Ciganos



Os ciganos são uma etnia, com língua e costumes próprios, que sempre os diferenciou e protegeu das grandes transformações pelas quais o mundo passou e ainda passa. A teoria mais aceita sobre a sua origem é a de que tenham vindo da Índia, lá praticavam inúmeras artes manuais e artes mágicas, naturalmente artistas tinham grande fascínio pelos mistérios da natureza e do ser humano; um dia partiram para terras desconhecidas em busca de melhores recursos para suas vidas, para manterem-se unidos mantiveram algumas de suas tradições de berço e criaram leis para uma convivência pacífica.
A caminhada foi longa e ainda é, pois muitos ainda mantém uma vida total ou parcialmente nômade, seja como for, alguns costumes e a própria língua foram se acrescentando de termos, hábitos e usos dos povos que conheceram, mantiveram porém, os traços marcantes que são suas referências na passagem pela história do mundo, a arte da música e da dança e a leitura dos mais variados oráculos.
Para os ciganos a família é a base de toda a vida, os mais velhos detêm o conhecimento das experiências que os mais novos ainda não viveram e o mais novos são a certeza da continuação daquilo que acreditam. O nascimento, o casamento e a morte compõem os mais importantes ritos, há muitas regras que determinam o comportamento do homem e da mulher, estas servem para a proteção das tradições e do próprio indivíduo numa sociedade com valores diferentes dos seus.
É pena que o mundo saiba tão pouco sobre como os ciganos encaram a vida, sempre em frente, sem medo dos ventos que mudam as direções de nossos passos sem avisar. Apesar do caminho difícil, os grupos que saíram da Índia cresceram e dividiram-se, seguiram direções diferentes, e por isso existem tantos ciganos quanto países no mundo. No deserto, na Europa, Ásia, América e na própria Índia, sempre se destacam na música, dança, entretenimento, terapias alternativas e artes divinatórias. Os ciganos não têm uma religião específica, mas sim uma fé gigantesca, acreditam numa força maior criadora do universo e por isso tudo que há nele deve ser respeitado, acreditam em reencarnação e mundos paralelos que abrigam espíritos de inteligência superior que ajudam na proteção e evolução dos seres. Assim, há ciganos hinduístas, católicos, evangélicos (que não praticam as artes mágicas), budistas e adeptos de toda religião de que se tenha notícia.
Foram necessárias muita força e fé para enfrentarem e sobreviverem aos desatinos da humanidade a que foram submetidos. Essa fé e força devem ter sido uma grande afronta a muitos reinados que os perseguiram por não submeterem-se às leis locais, normalmente mantinham-se às margens de rios ou florestas onde pudessem se alimentar e descansar, quando iam às vilas trocavam ou vendiam mercadorias, e ainda ofereciam a leitura das cartas e das mãos, além dos filtros para a saúde, beleza e amor. Bem se sabe que um cigano tem o dom do convencimento, e quantas vezes não venderam cavalos negros que por “milagre” ficaram brancos, talvez essa esperteza, a língua que lhes permitia falar segredos em voz alta, pois além de seu dialeto eles sabiam as línguas locais, mas ninguém sabia a deles; a sua forma de encantar com a dança e as músicas que passavam uma noção de liberdade que muitos jamais conheceriam, talvez esses traços os fizessem perigosos aos olhos dos poderosos. Não se sabe bem a razão, mas foram perseguidos em muitos reinos que os proibiram de praticar suas artes, comércio e principalmente a leitura das mãos, e de maneira alguma parecerem ciganos, o que só lhes deixavam a opção de fugir; a Igreja levou milhares aos tribunais da Inquisição; muitos países modernos matavam os pais ciganos na frente dos filhos para a criança aprender que ser cigano era errado; na Segunda Guerra Mundial morreram outros tantos nos campos de concentração.
O tempo passou, sobreviveram e ainda enfrentam o preconceito de muitas formas, mas muitos querendo ou não, a cultura cigana é vasta, rica em lendas e fontes de força para mantê-los ainda seguindo por muito tempo, não há palavras para definí-la, não só porque a cultura seja ágrafa, mas porque são milênios de passos incontáveis, de momentos felizes onde alguns aceitaram o povo errante, aprenderam e ensinaram, de momentos tristes, já que é assim que a vida se faz; porém procurando se encontra, e relatos sobre ciganos em inúmeros eventos da história se fazem presentes, seja pela arte, magia, previsões, sortilégios ou superstições, muitas delas até os dias de hoje.
O mais importante é que se tenha a mente e o coração aberto para conhecer coisas novas ou tão antigas quanto os ciganos e como eles tirar delas o melhor, que é o aprendizado que não se compra e não se perde, pois como diz um ditado cigano “o conhecimento é a maior riqueza que se almeja e saber utilizá-lo é ser rico eternamente”.

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